No passado domingo em Compostela a Associaçom Galega da Língua desenvolveu umha jornada comemorativa com motivo do 40 aniversário da sua fundaçom em que se juntárom ativistas reintegracionistas de todas as geraçons.

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As tarefas de organizaçom do evento tinham começado bastante tempo antes, já que um evento destas características requer de muito trabalho documental: rever arquivos, atas e consultar diretamente com muitas das pessoas envolvidas para que a divulgaçom histórica que se faz seja justa e fidedigna. Assim foi como se preparou a placa e ainda vários dos materiais que se distribuírom gratuitamente às assistentes no próprio dia: uma pasta cujo desenho é a reproduçom facsimilar do primeiro boletim da AGAL de 1 de dezembro de 1982, onde se apresenta a associaçom e se descreve o labor que desenvolverá. Por sua vez a pasta continha outra documentaçom dos anos 1981 e 1982: uma convocatória, umha ata e dous documentos estratégicos, junto com a listagem das 94 primeiras pessoas sócias. Destas, as 39 mais ativas ao longo do ano 1981 figuram desde domingo numa placa de bronze que foi colocada no exterior do Centro Dom Bosco. A pasta também incluía um presente para os sócios e sócias: o livro de poemas “Os passos da procura” de Celso Álvarez Cáccamo editado por Através, e uma cópia impresa de três estrofes do poema Os Pinos de Eduardo Pondal, isto é, das duas usadas tradicionalmente no hino galego e mais outra que reclama que a Galiza e a Lusitânia voltem a juntar-se.

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Assembleia e sócios de honra
A jornada começava com um dia claro e umha manhá soalheira de inverno em Compostela, às 10:30 no centro Dom Bosco, no bairro compostelano de Belvis. Na assembleia ordinária, à qual assistiram perto de 50 pessoas, para além de serem aprovadas as contas do ano anterior e os orçamentos do seguinte, foram tratados múltiplos temas, nomeadamente relacionados com a atividade que desenvolveu a AGAL no último semestre e a previsom para o seguinte. Para além do presidente e do secretário João Lousada, polo palco da sala de atos do Centro Dom Bosco foram passando Valentim Fagim, Graciela Lois, Carme Saborido, Vitor Garabana, Miguel Penas ou Susana Álvarez.

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Entretanto, fora, Manuel Magám e Alba Soneira encarregavam-se da Mesa da Através e Vítor Anguiám tratava da logística da cápsula que iria ser enterrada depois. O momento mais importante da assembleia foi o final, quando o presidente do Conselho propujo à assembleia a distinçom como sócios de honra de José Luís Rodríguez, catedrático de língua e literatura portuguesa; Isaac A. Estraviz, o grande lexicógrafo do galego; e Martinho Montero, por muitos e muitas considerado o pai do reintegracionismo moderno. A proposta assentava na dilatada produçom científica e intelectual ao serviço do reintegracionismo e no grande serviço de orientaçom que têm prestado ao movimento reintegracionista e à AGAL desde a primeira reuniom até hoje. A proposta foi aceite por aclamaçom e os três homenageados recebêrom um longuíssimo aplauso em pé de toda a assistência.

O momento mais importante da assembleia foi o final, quando o presidente do Conselho propujo à assembleia a distinçom como sócios de honra de José Luís Rodríguez, catedrático de língua e literatura portuguesa; Isaac A. Estraviz, o grande lexicógrafo do galego; e Martinho Montero, por muitos e muitas considerado o pai do reintegracionismo moderno.

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A placa comemorativa
Após a assembleia, às 12h, chegou o momento do ato público que rendia homenagem ao grupo fundacional, com a primeira intervençom de Eduardo Maragoto, presidente da associaçom. Maragoto distinguiu dous momentos no processo de fundaçom da AGAL: as primeiras reuniões no Seminário Maior de Compostela até que é redigida a ata fundacional e se constitui na Corunha a primeira Comissom Fundacional. Para além dos novos sócios de honra, desta primeira fase estivérom e intervinhérom no evento António Gil Hernández, Joaquim Campo Freire, Xavier Alcalá e Manuel Miragaia. Também houvo palavras de afeto para Joám Carlos Rábade Castinheira (do qual foi lido um texto), José Maria Monterroso e Maria do Carmo Henríquez Salido. A segunda fase tivo como desafio central a organizaçom das assembleias fundacional (30 de outubro) e constituinte (19 de dezembro), que era a comemorada. Nesta fase a AGAL chegou a juntar 94 sócios e sócias.

Alguns e algumas delas figuram na placa comemorativa colocada no exterior do mesmo centro, cara a rua Belvis, onde se podem ler os nomes das 39 pessoas mais destacadas ao longo desse processo de fundaçom, para além de um breve texto de Carvalho Calero. Muitas delas estivérom presentes no ato, como Manuel Portas, Alberto Garcia Vessada, José Luís Grande Grande, Moncho de Fidalgo, Miguel Mato, Manuel Rivero, Pedro Fernández Velho, Ramom Reimunde, Vitória Vázquez Rozas, ou Maria José Dias Pinheiro. Alguns dirigiram breves palavras às cerca de 100 pessoas concentradas no ato, principalmente a última, ainda hoje muito ativa no movimento reintegracionista, que lembrou a importância que tivérom os novos sócios de honra na formaçom da seguinte geraçom de reintegracionistas a que ela pertence. Também houvo palavras de reconhecimento para Aracéli Herrero, sócia fundadora recentemente falecida por covid.
O ato finalizou com uma excelente interpretaçom do hino por parte de vários integrantes de Pana Raiada; os músicos Antom Meilám, Xulio Maside, Marcos Valera e Anxo Varela, quem entoavam o hino galego (2 primeiras estrofes d’Os Pinos de Pondal), mas acrescentando-lhe uma terceira estrofe que reivindica a unidade galego-portuguesa.

Teus fillos vagarosos,/em quen honor só late,/a intrépido combate/dispondo o peito van;/sé por ti mesma libre/d`indigna servidume/e d´oprobioso acume,/región de Breogán./Á nobre Lusitania/os brazos tende  amigos,/que os eidos ven, antigos,/con un pungente afán;/ e cumpre as vaguedades/dos teus soantes pinos/duns mágicos destinos,/¡oh, grei de Breogán!

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Cápsula do tempo
Uma das atividades que levantou mais expetativas foi a da cápsula do tempo. No jardim interior do Centro Dom Bosco, no fundo, ao pé dum Carvalho, já havia um importante buraco na terra e várias ativistas andavam já com umha caixa plástica recolhendo as mensagens que as participantes que o desejassem fôrom introduzindo para abrir a partir do dia 19 de dezembro de 2081, quando a associaçom mais antiga do reintegracionismo fizer 100 anos.
Este emotivo momento foi introduzido com as intervençons dalgumhas ativistas atuais da associaçom, como Susana Álvares e Alba Soneira, que agradecêrom o testemunho recebido polas anteriores geraçons, já que reforçavam assim a sua vontade de o transmitirem às vindouras. Seguidamente, intevinherom a concelheira compostelana de cultura Mercedes Rosón, que foi fundamental para possibilitar a colocaçom da placa, e Mª Carmen Martínez Ínsua, diretora geral de património cultural, que compareceu em representaçom da Conselharia de Cultura. As políticas salientaram o importância da AGAL para manter o ideal da irmandade galego-portuguesa, algo fundamental para ter futuro como cultura. A seguir, intervinhérom várias assistentes livremente, como histórica do reintegracionista e ambientalismo Adela Figueroa.
As mensagens, fôrom embaladas a vácuo e introduzidas numa caixa plástica que ia recheada de areia, para garantir a conservaçom. Finalmente, a caixa foi selada e enterrada, com especial protagonismo dum grupo de crianças, as encarregadas, simbolicamente, de ficarem para recuperar a cápsula dentro de sessenta anos.

As mensagens, fôrom embaladas a vácuo e introduzidas numa caixa plástica que ia recheada de areia, para garantir a conservaçom. Finalmente, a caixa foi selada e enterrada, com especial protagonismo dum grupo de crianças, as encarregadas, simbolicamente, de ficarem para recuperar a cápsula dentro de sessenta anos.

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Jantar e celebraçom na nave de Vidám
Eram passadas já às 15h quando começou o almoço no restaurante A Nave de Vidám, que se prolongou até que já anoitecia no exterior. Durante a sobremesa, a parte mais clássica da homenagem tinha lugar num ato conduzido por Eduardo Maragoto, em que começou tomando a palavra Bernardo Penabade, ex-presidente da Associaçom para fazer umha laudatio aos três protagonistas da jornada, sinalados como sócio honoríficos José Luís Rodríguez, José-Martinho Montero Santalha e Isaac Alonso Estravis. Depois, cada um dos homenageados tomou a palavra, e receberom candaseu farol de cerâmica, da mao do moço Artai Miragaia. E finalmente a festa acabou com a atuaçom musical dos portugueses Jaime Torres e Carlos Pereira, dous dos elementos de “Canto d’Aqui”, acompanhados do recital de Fernando Pena.

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Os homenageados
José-Martinho Montero Santalha
Sócio fundador da Associaçom Galega da Língua em 1981, Martinho também foi presidente das Irmandades da Fala e foi eleito como primeiro Presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) em 2008. Com formaçom em teologia, filosofia e filologia, na década de 70 está em Roma onde forma o grupo “Os irmandinhos” com outros companheiros ligados à Igreja.
Em 1974 é um dos assinantes do Manifesto para a supervivência da cultura galega, publicado em duas importantes revistas da época, a portuguesa Seara Nova dirigida por Manuel Rodrigues Lapa, e a espanhola Cuadernos para el diálogo. Nesse ano volta para a Galiza.
Redigiu a primeira formulação ortográfica do reintegracionismo, que aparece publicada em 1976 na revista galega Grial e que recolhe a proposta de Manuel Rodrigues Lapa de adotar a língua portuguesa como forma culta para as falas galegas, matizada para, por enquanto, defender apenas uma aproximação ortográfica.
Em 1977 recebe o Prémio Fernández Latorre de Jornalismo pelo seu artigo “Integración linguística galego-portuguesa”.
Este mesmo ano, 1977, participa nos debates das Bases para a unificación do idioma galego promovidas polo ILG tentando orientar estas Bases no sentido reintegracionista.
Depois desta, aparecem outros artigos em revistas especializadas e também monografias como Directrices para a reintegración linguística galego-portuguesa, publicada em Ferrol em 1979.
Ao longo de toda a sua existência está entre os membros mais ativos da Associaçom Galega da Língua (AGAL) e continua produzindo obra favorável ao reintegracionismo.

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Isaac Alonso Estravis
Sócio fundador da Associaçom Galega da Língua em 1981, entidade que contribuiu decisivamente a legalizar e na qual ocupará vários cargos ao longo da sua história. Também é o primeiro vice presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa, membro da Comissão de Lexicologia e Lexicografia, e do Conselho de Redação e Administração do Boletim da AGLP.
Licenciado em Filosofia pela Universidade de Comilhas (1973), em Filosofia e Letras pela Complutense de Madrid (1974) e na mesma universidade em Filologia Românica (1977). Diplomado em Cultura e Língua Portuguesas pela Universidade de Lisboa (1976). Doutor em Filologia Galega pela Universidade de Santiago de Compostela (1999) com a tese O Falar dos Concelhos de Trasmiras e Qualedro.
Em 1986, assistiu como observador ao Encontro sobre Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa (6-12 Maio de 1986) no Rio de Janeiro. De 1990 a 1992 foi Professor Associado da Universidade de Vigo. Desde 1992-94 foi Professor Titular de Didática da Língua e Literatura Galegas na Universidade de Vigo, em Ourense e Ponte Vedra.

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José Luís Rodríguez
O professor José Luís Rodríguez foi protagonista e testemunha privilegiada duma época conturbada da Universidade de Santiago de Compostela e das políticas linguísticas propugnadas polas instituições académicas e políticas para a língua do País. Em 1979, por concurso oposiçom, ganha a vaga de Professor Adjunto de Língua e Literatura Portuguesa, matéria na que foi catedrático universitário de 1994 até a sua reforma em 2017.
A partir da Área de Filologia Galega e Portuguesa, na qual exerceu a docência e a investigaçom, mormente no campo da medievalística e do relacionamento galego-português, estabeleceu contactos, firmes e duradouros, com personalidades do momento tam marcantes como os também professores Ricardo Carvalho Calero, Manuel Rodrigues Lapa ou, ainda, Ernesto Guerra da Cal.
Em 1979 foi secretario da Comissom Linguística da Xunta preautonómica para a elaboraçom das Normas ortográficas do idioma galego (1980), proposta finalmente impugnada. Daí, foi sócio fundador da AGAL e primeiro presidente da sua Comissom Linguística, e agente central do movimento reintegracionista em defesa da língua na década de 80 até a atualidade.isaac-martinho-e-jose-luisIsaac Estraviz, à esquerda, Martinho Montero, no centro e José Luís Rodríguez na direita.